Prémio Jovens Arquitetos 2025: Inovação, Sustentabilidade e o Futuro da Arquitetura Portuguesa
A 4ª edição do Prémio Jovens Arquitetos (PJA) consolida-se como uma plataforma essencial para reconhecer e impulsionar a nova geração de arquitetos em Portugal, destacando projetos que integram inovação, criatividade e sustentabilidade.
Este ano, o primeiro prémio foi atribuído à Casa com Muitas Caras, do fala atelier; o segundo lugar distinguiu Ladeirinha, do atelier Experimental; e o terceiro prémio reconheceu a Casa em Luzim, de Cíntia Guerreiro e Juliano Ribas. Para Marco Roque Antunes, curador do prémio, esta distinção vai além do reconhecimento: cria ligações entre jovens talentos e a indústria, impulsionando o debate sobre os desafios contemporâneos da arquitetura.
Nesta entrevista, Marco partilha a sua visão sobre a evolução do prémio, os critérios de avaliação e a importância da inovação, da sustentabilidade e do impacto social na prática arquitetónica atual. Mais do que premiar talento emergente, o PJA pretende transformar a arquitetura portuguesa, incentivando novas abordagens e soluções urbanas visionárias.

O Prémio Jovens Arquitetos surge como uma plataforma de reconhecimento e incentivo para as novas gerações. De que forma esta iniciativa pode transformar a prática arquitetónica em Portugal?
O Prémio Jovens Arquitetos (PJA) conta com uma tríade de curadores – além de mim, inclui os meus colegas Paulo Serôdio Lopes e Paulo Durão. Apesar de ser um prémio relativamente jovem, agora na sua 4ª edição, tem-se afirmado como um projeto sólido, dedicado ao reconhecimento e incentivo das novas gerações. A cada edição, sentimos um novo nível de maturidade, sempre com o objetivo de consolidar o prémio no panorama nacional. O nosso propósito principal permanece claro: celebrar a qualidade da arquitetura realizada por jovens arquitetos, proporcionando-lhes maior visibilidade e um alcance público cada vez mais amplo.
Como curador, que critérios foram fundamentais na definição do prémio para garantir que este reconheça talento e estimule uma reflexão crítica sobre os desafios contemporâneos da arquitetura?
Cada período da história traz consigo desafios e inquietações próprias, e o nosso tempo não é exceção. Diante dessas questões, os arquitetos contemporâneos apresentam as suas próprias respostas, refletindo as necessidades e preocupações da sociedade atual. Enquanto promotores e curadores deste Prémio, estabelecemos premissas fundamentais para a sua avaliação. Procuramos reconhecer o impacto e o caráter inovador das obras de arquitetura, analisando a forma como estas se integram no seu contexto. Valorizamos, também, projetos que resultem de processos colaborativos, desenvolvidos em conjunto com outras disciplinas e conhecimentos, incorporando novos materiais e soluções construtivas. Além disso, temos um olhar atento para obras que contribuam ativamente para o combate às alterações climáticas e que promovam a sustentabilidade energética, demonstrando um compromisso real com o futuro do ambiente e da sociedade.
De que forma o prémio incentiva soluções inovadoras e sustentáveis na arquitetura contemporânea?
Este é um dos parâmetros fundamentais de avaliação, presente no regulamento desde a 1ª edição. Ao júri é expressamente solicitado que identifique e valorize essa dimensão. Não poderia ser de outra forma, pois vivemos um momento de urgência coletiva para abordar estas questões de forma ampla e integrada. E, se há uma disciplina intrinsecamente ligada ao bem comum, essa disciplina é, sem dúvida, a arquitetura.

Num país com uma herança arquitetónica rica, como é que o prémio equilibra a valorização do passado com a necessidade de fomentar abordagens visionárias?
As obras distinguidas no Prémio Jovens Arquitetos têm a oportunidade de serem apresentadas publicamente durante a Semana da Reabilitação Urbana, proporcionando uma maior visibilidade aos projetos premiados. No entanto, o Prémio não distingue entre reabilitação e obra nova, permitindo a submissão de ambos os tipos de projeto e valorizando-os de igual forma, sem estabelecer categorias separadas ou rácios específicos. A valorização do passado pode expressar-se através de projetos que respeitam e integram a arquitetura tradicional portuguesa, adaptando-a às necessidades e desafios contemporâneos – um exemplo disso é a ‘Casa em Luzim’, distinguida nesta edição. Da mesma forma, o Prémio reconhece projetos que demonstram inovação, criatividade e uma visão de futuro, como é o caso da ‘Casa com muitas caras’, onde se exploram novas ideias, usos e espaços adaptados às dinâmicas da vida contemporânea.
Que impacto espera que os projetos vencedores tenham na discussão pública sobre arquitetura e urbanismo?
O impacto do Prémio Jovens Arquitetos é evidente desde a sua integração na Semana da Reabilitação Urbana. Este evento reúne os principais stakeholders do setor imobiliário, sendo a arquitetura um dos seus pilares fundamentais. A apresentação dos projetos distinguidos, através de uma sessão própria e de uma exposição, desperta sempre um grande interesse. Os jovens arquitetos trazem novas conceções espaciais, materiais e conceptuais, introduzindo abordagens inovadoras que enriquecem o debate e impulsionam a evolução do setor.

Durante a curadoria, que tendências ou desafios se destacaram nos trabalhos apresentados?
A diversidade de tipologias e escalas das obras submetidas ao Prémio Jovens Arquitetos pode gerar diferentes perspetivas dentro do júri. Casas versus equipamentos coletivos, pequenas intervenções versus obras de grande escala – são binómios que, por vezes, criam debates acesos sobre quais os critérios de maior relevância. No entanto, é precisamente por isso que o júri conta com três elementos, garantindo um equilíbrio nas decisões. Embora a curadoria tenha um papel fundamental na estruturação do prémio, não substitui o júri na avaliação das propostas. Ainda assim, os jurados são escolhas diretas dos curadores, assegurando uma seleção equilibrada e representativa da diversidade da profissão.
Nesta edição, mantivemos a preocupação de trazer um painel heterogéneo, composto por arquitetos jovens, já reconhecidos noutros prémios e fóruns, com abordagens e trajetórias distintas. Além disso, reforçámos a presença feminina no júri, que este ano volta a ser maioritariamente constituído por mulheres, incluindo dois arquitetos portugueses e um terceiro elemento com escritório em Madrid. O objetivo foi garantir diferentes práticas e visões, assegurando uma análise ampla e abrangente das propostas apresentadas.
O prémio vai além do reconhecimento do talento e procura conectar os jovens arquitetos à indústria. Que estratégias foram adotadas para fortalecer essa relação?
O Prémio Jovens Arquitetos é possível graças ao apoio de parceiros fundamentais. Desde a sua criação, conta com a promoção da Vida Imobiliária e com o apoio imprescindível do Grupo Preceram e da Schmitt + Sohn Elevadores , que têm sido peças-chave na sua consolidação. Além disso, a Semana da Reabilitação Urbana desempenha um papel essencial na projeção do prémio, sendo um evento já estabelecido como ponto de encontro para profissionais, empresas e instituições do setor. O ambiente desta iniciativa favorece naturalmente a partilha de conhecimento e o fortalecimento de conexões entre arquitetos, marcas e stakeholders da indústria.
Qual é o maior desafio ao avaliar projetos que precisam de equilibrar qualidade técnica, estética e relevância cultural, social e ambiental?
A avaliação das obras submetidas ao Prémio Jovens Arquitetos passa pelo olhar atento de um coletivo de jurados composto por três profissionais com percursos, formações e perspetivas distintas. Apesar dessas diferenças, há um compromisso comum: um sentido de rigor e a vontade genuína de contribuir para uma causa maior. Cada jurado mergulha profundamente na análise das obras, sustentando as suas avaliações num processo transparente e orientado pela justiça. Este desafio, no entanto, não se limita ao júri. Os candidatos também têm a responsabilidade de destacar os aspetos mais relevantes dos seus projetos. Muitas vezes, saber evidenciar os elementos mais distintivos e eloquentes de uma obra pode ser determinante para uma candidatura vencedora.

Qual o papel dos jovens arquitetos na transformação do espaço público e na criação de soluções urbanas inovadoras?
A encomenda pública ainda chega com menos frequência aos jovens arquitetos, que iniciam maioritariamente os seus percursos através de projetos privados. Nesta edição do Prémio Jovens Arquitetos, a tendência manteve-se: a maioria das candidaturas focou-se em obras de Habitação Unifamiliar e Coletiva, tanto de reabilitação como de construção nova. No entanto, também surgiram propostas fora deste âmbito, desde uma Casa Mortuária a um Parque Botânico e Fluvial, passando por uma Escola, um Museu e a Reabilitação de um Mosteiro. Estes exemplos demonstram a versatilidade e a capacidade inovadora dos jovens arquitetos portugueses. Acreditar no seu talento e na sua formação de excelência é essencial para que, num futuro próximo, a sua marca seja cada vez mais visível no espaço público.
Que evolução ou novos desafios gostaria de ver nas próximas edições do Prémio Jovens Arquitetos?
Para a 5ª edição do Prémio Jovens Arquitetos, já temos planos e ambições bem definidas. Queremos continuar a consolidar este percurso e elevar o Prémio a novos patamares, ampliando parcerias, reforçando a sua dimensão ibérica e aumentando o alcance da sua difusão. O objetivo passa também por garantir maior visibilidade a todas as obras submetidas – mesmo aquelas que não sejam distinguidas – e, idealmente, concretizar uma edição em papel que reúna as principais obras das cinco edições do PJA. O caminho a percorrer ainda é vasto, mas mantemos o foco no propósito essencial do Prémio: destacar projetos de arquitetura que nos façam “sonhar para além dos limites convencionais da atualidade” e projetar o futuro da disciplina com inovação e audácia.